Muitos
foram os textos que eu já escrevi sobre minha profissão. Alguns foram sobre
turmas específicas, principalmente as primeiras. Nunca foi segredo para ninguém
que elas foram responsáveis pelo Professor que eu sou hoje e que eu nunca
poderia ter pedido melhores turmas para iniciar essa jornada que já dura sete
anos na minha vida!
O
tempo vai passando e, às vezes, sentimos que algo parece começar a esfriar. Com
esse sentimento, vem o receio... Uma coisa é certa para mim: é um tanto
impossível, devido aos tantos contratempos, manter exatamente a mesma energia
ano após ano. Ainda que essa energia diminua de forma quase que imperceptível,
podendo ainda levar décadas para se esgotar, ela não é a mesma da de 2009. E
isso não significa ter menos amor pelo que se faz, de forma nenhuma! Faz parte,
talvez, de um processo biológico, físico e mental, da condição do ser humano.
Tão
certo quanto isso, é o fato de que, ao longo da caminhada, surgem pessoas que
parecem ter aparecido para colocar uma carga a mais de energia no processo. E
este ano, depois de algum tempinho, isso aconteceu de novo.
É
sempre muito perigoso escrever esse tipo de texto, pois quando se é Professor,
você não consegue mensurar a quantidade de alunos e alunas que gostam de você
ou te enxergam como um irmão mais velho (às vezes até pai) ou um exemplo a ser
seguido... e esses pequenos “ser humaninhos” pensam que, por falar
especificamente de uma ou duas turmas, a que eles fazem parte não tem
importância ou não marcaram! Ledo engano...
Todas
as turmas marcam de alguma forma. E quando algum deles se tornar Professor,
saberá disso. Mas existem fatores, diversos fatores, que fazem uma turma
diferente da outra. E esses fatores NÃO dizem respeito ao Professor, mas a
própria conjuntura das pessoas envolvidas, de suas individualidades e de como
agem enquanto grupo, enquanto turma. Por exemplo, eu posso ter uma turma com 40
alunos, na qual todos eles são pessoas maravilhosas e que despertam um carinho
imenso em meu coração... mas enquanto turma, unidos, podem não ser uma turma
boa, fácil de se lidar ou coisa parecida. Isso não diminui o carinho por cada
um deles, mas venhamos e convenhamos, quando o trabalho do profissional ali na
frente é respeitado, seja com o silêncio na hora da explicação, seja com a
permanência acordado na hora da aula (mesmo não gostando da matéria), ou com a
participação dos alunos na aula e o tratamento respeitoso entre eles próprios,
as circunstâncias acabam por fortalecer alguns laços (agora não apenas
individuais, mas com a turma).
É
bom reiterar isso para que os “ciúmes” de uns não venham a ser prejudiciais. Eu
realmente gostei da maioria esmagadora dos meus alunos este ano! E mesmo
aqueles os quais eu não consegui me “adaptar” tanto, isso nunca ficou
transparecido ou tratei de forma diferente. Não tenham nem dúvidas disso. Mas
somos humanos... com sentimentos e ações humanas. A vida tem dessas...
Mas
vamos voltar à ideia principal do texto.
A
sexta-feira costuma ser o dia mais feliz das pessoas por sua proximidade com o
final de semana. O famoso descanso, a praia, a farra ou simplesmente colocar as
séries em dia... Comigo não foi diferente, mas havia, este ano, um motivo a
mais para amar a sexta-feira. Aliás... dois motivos a mais.
Nos
primeiros dias de aula nos 9ºs Anos Sigma e Gama, nossa boa relação já parecia
visível e, em pouco tempo, eu acordava feliz, pois eram quatro aulas naquele
dia... duas para cada um deles. Se havia um feriado na sexta, não era motivo de
alegria para mim. Passavam-se duas semanas sem vê-los e a saudade batia à minha
porta. E assim foi durante o ano inteiro, com os laços se fortalecendo a cada
aula. Alguém, a cada final de aula, na minha última aula da semana, dizia-me
sempre: “Parabéns por mais uma aula,
Professor!”, e eu, meio sem jeito, agradecia com um sentimento de missão
cumprida.
Alguns
outros que, digamos, não eram muito fãs de frequentar a escola, apareciam nas
sextas-feiras e me diziam: “Hoje eu só
vim por causa da sua aula!” e acreditem... era real! Imagina como eu me
sentia ao saber que algumas daquelas pessoas decidiam ir para a escola, numa
sexta-feira, apenas para não perder as minhas aulas...
O
comportamento muitas vezes era tão bom, que nossas metas eram cumpridas com um
pouco de tempo sobrando. Aí eu entrava com aquilo que parece ter se tornado já
uma marca pessoal: Momentos de Reflexão. Ali aprendemos juntos a respeitar o
próximo, a apreciar o talento humano, a repensar o nosso mundo... a valorizar o
mundo que cada um tem! Mundos esses que eu tive a oportunidade de conhecer,
alguns mais a fundo, outros nem tanto... mas mundos lindos! Problemas? Em todos
os mundos eles se farão presentes, mas também estarão os amigos. Bons remédios para esses
males.
No
último dia 18 de novembro, foi o dia de nosso último encontro “normal”, com
todos juntos... Aconteceu o que não acontecia já há algum tempo: as palavras,
que tenho a sorte de saber manipular um pouco, não foram suficientes para dizer
o quanto eles farão falta em 2017. E quando as palavras não conseguem dar conta
do recado, a Alma fala. E fala da forma mais natural possível. De repente, os
olhos, o coração e as lágrimas são a melhor forma de expressão. Um pouco
embaraçosa, talvez. Mas a mais verdadeira. E assim nos comunicamos. As palavras
falharam, a boa dicção foi para o espaço, os pensamentos se misturaram em
frases embargadas e, a partir daí, a sala de aula se transforma em Santuário.
Almas amigas decidem se comunicar de forma sensorial... os soluços, os
silêncios, o brilho nos olhos e os abraços se transformaram nos textos mais
sinceros. E nenhum poeta do mundo poderia passar aquele momento para o papel.
Ali estava sendo criado um Universo Paralelo. Parecíamos deuses e deusas... E
isso não é nenhum sacrilégio ou prepotência. Acredito que somos essência
divina, imagem e semelhança do Criador. E naquele momento, era Ele se fazendo
presente na forma mais pura que eu conheço: A Amizade!
Einstein
acreditava na Teoria de Tudo. Na teoria de que mundos paralelos existem e que
tudo que já aconteceu na sua vida, continua acontecendo em algum universo
paralelo. Eu acredito em Einstein. E gosto de pensar que mesmo enquanto eu
escrevo este texto, mesmo quando eu tiver bem mais idade do que tenho hoje, mesmo
quando esses pequenos forem avôs e avós, o Universo Paralelo criado no dia de
ontem permanecerá. A chave de acesso a esse Universo, lhes dei de presente,
assim como mantenho em local seguro a minha própria cópia.
Pequenos
do Sigma e Gama, guardem com carinho essa Chave. E em alguns momentos da Vida
quando nada parecer dar certo, peguem-na... olhem bem para ela... leiam o que
está por trás dessa Chave... Fechem bem os olhos, mantenham a Alma em
silêncio... o corpo também... Se usarem bem a Chave, vocês serão capazes de
ouvir um som bagunçado no começo (você estará fazendo uma viagem longa, tenha
calma), vozes indistintas... cada vez mais, essas vozes (algumas que você
talvez não escute há anos) vão reaquecendo seus espíritos... uma imagem, ainda
turva, começará a se formar... e a cada minuto, mais vozes vão sendo
reconhecidas, rostos que já não existem mais tal qual eram, começam a mostrar
seus contornos, o cheiro da juventude vai começando a tomar conta de onde você
está, ainda que tenha uma bengala ao seu lado...
A imagem, finalmente, ficou
colorida! Os rostos e vozes estão nítidos outra vez. E lá está você! Feliz! E
lá estão eles, em parte responsáveis por sua felicidade! E lá está a euforia da adolescência, os sonhos ainda não conquistados (porém vivos), as paqueras e até aquele seu melhor amigo, que você já não vê há tanto tempo...
Vocês
acessaram o nosso Universo Paralelo com sucesso!
Bem
vindos de volta, meus queridos alunos!
Bom
dia!
Saudações Humanos!
Fizeram
o resumo de vocês?