DOMINGO

Se não me engano, ontem foi domingo.

E todos os domingos traem a desconfiança, pois são dias santos.

Mas hoje, que não é sagrado, os pecadores continuam dormindo,

E quem dorme anuncia, em sonhos, que outro dia virá.

Parece-me que realmente ontem foi domingo.

Mas os dias são criações, que importam realmente?

Se na verdade a vida tem o dom de viver cruelmente.

E cruelmente travamos batalhas, opondo o bem e o mal.

E dignamente gravamos marcas diferentes, no que antes foi igual.

E o igual é sempre ilusório, pois tudo é único e singular.

Gostaria de crer mesmo, que ontem foi domingo.

Mágico e doce dia de domingo.

Cuja poesia de trinta dias teria começo e fim.

Mas uma poesia é eterna, por isso não acaba

Assim como o poeta, que perde o corpo mas nunca a alma,

Que é tão misteriosa e tão cheia de alegria, feito o poeta e a poesia.

Nem mais me importo se ontem foi domingo

Pois viajo, fantasiosamente, em busca d’outros dias.

Dias eternos que ainda não tenham sido nomeados,

Que trarão luz, em vez de escuridão; amor, ao invés de ódio,

Respeito! Que trarão respeito apoiado em todos os ombros, nos ombros de todos,

E olhando, por detrás dos ombros, tudo perecerá.

O ódio, a escuridão, o sofrer, serão resquícios de um passado

Tema de arqueólogo, encontrado em museu, perdido na memória.

Tema de poeta, encontrado no coração, perdido na alma.

Resplandecerá, por fim, novos dias cobertos com luz e boas energias,

Pois enquanto dormia, sonhei que vivia em um mundo melhor.

Mas sonhar é insuficiente, pois só quer o futuro quem não tem presente.

Sim. Hoje é domingo. Dia de dar sentido à minha existência, escrevendo;

Sim. Hoje é domingo. Mais um dia pra dar sentido à minha existência.


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Esta Poesia foi escrita há quase 5 anos em parceria com meu amigo Daniel Figueiredo. 
E aproveitando que hoje é domingo, aí foi ela!! :)