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sábado, 21 de março de 2015

AS CRIANÇAS CRISTAIS



Saudações Humanos! Como vocês estão?

De pouco tempo para cá, nossa sociedade vem passando por um quadro preocupante: estamos criando filhos como se fossem cristais, não diamantes. Tanto os cristais quando os diamantes possuem seus valores, muitas vezes inestimáveis, mas há algo claro que difere os dois. Os cristais costumam ser extremamente frágeis, diferente dos diamantes, que possuem uma resistência fenomenal.

Durante o dia a dia, não precisa ser Professor para perceber que uma geração de cristais foi criada. Contudo, somos nós Professores que conseguimos perceber isso de muito perto e cotidianamente. Antes de mais nada é importante ressaltar que essa geração não possui culpa alguma nessa situação preocupante. Aliás, se existe alguém que não podemos atribuir culpa, esse alguém é essa geração. Um contexto e mistura de superproteção dos pais, com uma interferência maior do Estado na vida privada das pessoas, são ingredientes para a receita de o que eu chamo de "Crianças cristais".

É óbvio que não podemos atribuir a mesma forma de tratamento para uma criança hoje, igual a de gerações passadas. O mundo vai se modificando e isso é natural. Entretanto, os rumos dessas mudanças é o que assusta. Nós sempre esperamos que as mudanças venham para melhor, e nem sempre é isso que ocorre.

Em meio à vida turbulenta dos dias de hoje, nem sempre os pais têm um tempo razoável para ficar com seus filhos na fase que eles mais precisam deles... na infância. Parte importante dessa infância,  portanto, fica à cargo de babás, funcionários de creches ou pessoas conhecidas. Quando os pais podem desfrutar do pouco tempo que tem para os próprios filhos, muitas vezes não querem fazê-lo com proibições ou não realizando suas vontades. Está aí o primeiro indício da fabricação de uma criança cristal.

A criança pode ir aprendendo que suas vontades devem ser sempre satisfeitas. Os pais esquecem-se de que um "Não!" faz parte do aprendizado. Que frustrações e vontades não saciadas devem ser parte de uma educação de qualidade que prepara essa criança para as intempéries da vida. Se os pais têm condições financeiras boas, o filho recebe todo tipo de presente para que, de certa forma, a ausência do pai seja minimizada e sua presença seja lembrada sempre à momentos de prazer e satisfação. É bem verdade que em muitos casos, os pais tomam essas atitudes acreditando cegamente de que é a melhor coisa a ser feita. Não consegue se dar conta de que não é disso que os seus filhos precisam.


Essas crianças cristais vão crescendo e vão à escola. Aí começa um "Deus nos acuda". Para muitos pais de primeira viagem, ter seus filhos nas mãos de "tios" e "tias" da escolinha se torna algo difícil. A cobrança dos pais é gigantesca e cada um quer um tratamento diferenciado para seu filho. Certa vez ouvi alguém dizer que em casa os pais podem ter "príncipes" e "princesas", mas que na escolinha eles fazem parte de um grupo de "súditos", e não possem privilégios em relação às outras crianças. Perfeito!

Quando essa criança cresce mais e começa a se tornar um pré-adolescente, o negócio começa a ficar mais complicado. A essa altura, a fragilidade já está formada em sua personalidade. E não confundam... Essas crianças cristais podem ser agressivas (pela falta de limites desde a infância), mas isso é apenas uma forma de responder ao mundo que o rodeia que ele aprendeu desde criança. É difícil contornar a situação? Muito! Mas não é impossível. É aí que entra o papel do Professor (um Ourives que pode ser da melhor qualidade).

Pausa para relatar um ponto de vista muito meu.
Eu não acho que essa seja a obrigação do Professor. Acho que Professor deve ensinar. Educação é algo que vem dos pais, de casa. Na minha humilde opinião, cabe ao Professor e ao seu tempo disponível, essa contribuição extra! Veja bem, EXTRA! Falando por mim, eu amo contribuir com essa questão extra, acho até que este é o real motivo pelo qual me tornei um Professor, mas eu nunca vou condenar um colega de trabalho porque ele não o faz. E há vários motivos que podem fazer com que ele não o faça: desde a falta de tempo (tendo em vista que muitas vezes ele trabalha em várias escolas e em vários turnos), até a falta de habilidade para tal, afinal, não é uma missão fácil.

Ser um Ourives e aprender a transformar as crianças cristais que chegam até a gente em crianças diamante, é um trabalho digno de um Prêmio Nobel. Ou alguém duvida que mudar positivamente os rumos da vida de alguém é algo pequeno? O grande problema é que não fazemos isso com o apoio irrestrito de todos. Ora bolas, a começar pelos próprios pais que não conseguem admitir a educação cristalizada que proporcionaram aos filhos. Perguntam: "Onde foi que eu errei?", mas se você for corajoso o suficiente para apontar onde errou, é capaz de levar um processo por isso. Eles ainda falam: "Eu não sei mais o que fazer com Fulano!", e é bom que ouçam de alguém: "Mas você TEM que saber o que fazer com ele! Ele é seu filho!", e nessas péssimas e insalubres condições de trabalho o Ourives tem que fazer a sua arte, quase mágica.

As crianças cristais se doem por pouco, se magoam por qualquer coisa, se deixam machucar por um apelido bobo.

Nova pausa!
É importante dizer que não nego a existência de um sério problema atual, o "Bullying". Ele é um problema real, grave e que merece ser tratado com seriedade. Mas também é de igual importância aprendermos a deixar o maldito "politicamente correto" de lado e percebermos que NEM TUDO É BULLYING! Hoje em dia, atribui-se essa palavra a quase tudo que acontece. E não... vamos com calma, por favor. Dessa forma estamos ajudando ainda mais no processo de cristalização. Às vezes receber um apelido indesejado de um colega, é normal! Talvez, em determinados casos, o melhor remédio, é retribuir com outro apelido e esquecer aquilo no outro dia. Mas hoje a patrulha ideológica está tão forte, que um simples comentário desses pode gerar a fúria daqueles que adoram criar métodos para criar os filhos... dos outros.

Devemos investir na maior loteria do mundo: esses jovens! São eles que podem mudar os rumos tenebrosos de nossa sociedade quando forem adultos! E se eles se tornarem a primeira geração de "Adultos cristais"?  Não podemos deixar isso acontecer! Devemos começar a transformá-los em crianças diamantes! Deixá-los com seus brilhos próprios e fazê-los descobrir a fortitude que há dentro deles. Tratá-los como jovens que são, capazes de receber elogios e críticas! Capaz de lidar com os elogios e críticas! Capaz de crescer com eles! Devemos ensiná-los que cair faz parte, que podem chorar, inclusive, ao cair, mas que eles possuem a força necessária para levantar e continuar. Que tentem levantar sem segurar nas mãos de ninguém, mas que saibam que se estiverem para cair, haverá uma mão para segurá-los! Está na hora de tirar as rodinhas da bicicleta e deixar com que uma ou outra queda aconteça; que um ou outro joelho seja ralado; que após uma turma inteira rir de alguma situação cômica, possamos ensiná-lo a rir de si mesmo e ele verá que aquilo será esquecido no minuto seguinte.


Nós os vemos cair e fazemos uma algazarra para saber se machucou, onde machucou, quanto machucou... e ao olhar nossos semblantes desesperados, eles se desesperam juntos! Que possamos soltar um "ÊÊÊÊêêêÊÊÊ, caiu! Agora levanta e parte pra outra!", no momento da queda, para que ele veja que não é um cristal que se quebra com tanta facilidade, mas um ser com mais substância, com mais liga, com mais FORÇA do que se imagina!

Infelizmente ainda parecem ser poucos os que pensam assim. Ou são poucos os que manifestam apoio a esse pensamente. Mas enquanto o "politicamente correto" conseguir anular essas opiniões, a forma com que a pedagogia é trabalhada hoje, continuará sendo a grande continuação da fábrica de Crianças cristais, cuja matriz é, tristemente, o próprio Lar da criança.




Um comentário:

  1. É um belo texto, meu amigo Sensei.

    Concordo com quase tudo, mas tenho sérias reservas sobre a parte do Ourives.

    O ourives é um artesão e, como tal, ele trabalha peça por peça, minuciosamente e à exaustão, até deparar-se com um resultado que satisfaça as ambições de seu próprio espírito.

    Isso significa dizer, então, que ele não poderá trabalhar várias peças, simultaneamente. Como um trabalho de dedicação, ele não poderá se ater, simultaneamente, à várias obras. Só haverá espaço para uma de cada vez, para um trabalho bem feito, ou nenhuma delas irá prestar.

    Tal é o caso, que o comparo com a questão "Mestre/Discípulo", e ilustro o caso - como é pertinente - com o exemplo das relações de desenvolvimento espiritual/filosófico que era tão comum na Idade Antiga das grandes civilizações (Grécia, Roma, India, China...). E mesmo hoje, na parca percepção cinematográfica, todos os exemplos existentes são assim: para cada um bom mestre, um bom discípulo de cada vez...

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